A dor do abandono - Mariza Lima Gonçalves
Não se marca o tempo nem a hora
E de repente a dor vem sem demora
É ardido no peito, é lágrima no olho.
E seu nome, com certeza, é dor do
abandono.
Vem mansa, inundando a alma
Trazendo as lembranças da situação
É um buscar de desculpas básicas
Todas de forma geral, sem explicação
Esta dor é muito forte
Comparada à dor da própria morte
Em vida se perde o alento
E tudo à volta vira sofrimento
São sempre perguntas sem respostas
Por quê, por quê, por quê, por quê???
Por que isto aconteceu comigo?
Na certa é algum castigo
Seria o divino ou a atitude humana
Que me põe na fogueira da punição
Que não me dá aval de impunidade
E me castiga, sem pena, sem dó, sem
salvação?
Já não basta a dor do abandono
E, ainda, na mente ferve o pensamento
De querer descobrir, sem demora
O que houve, no passado, naquele
momento
Seria uma fala não compreendida
Uma atitude não delicada
Uma falta de atenção com o outro
Ou seria, apenas, punição exagerada?
A dor do abandono é ampla e absoluta
Chega e causa infortúnio
Por mais que se tente ir à luta
A dor sempre ganha a disputa.
Se fosse possível escolher
Outra dor estaria em meu poder
Seria a dor do outro a escolhida
E ficaria, assim, impune nesta vida.
Nem só desta dor se vive
E os dias caminham tristes
O sol ora levanta e a dor
Foi embora, ninguém se espanta.