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quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Enigma - Aristides Teodoro
Enigma - Aristides Teodoro
Símbolos
formas
cores
simbolizam
a condição humana
onde muitos veem a
mesma
forma, a mesma cor
e cada qual tem
a sua própria definição.
O Centauro e Eu - Décio Drummond
O Centauro e Eu - Décio Drummond
Se
fosse possível prever o futuro com um minuto de antecedência, quantos
dissabores poderiam ser evitados. Em contrapartida, quantas surpresas
agradáveis perderiam o sabor da novidade.
Naquela
manhã, um minuto bastaria para me fazer desistir de atravessar a avenida. Nesse
caso, porém, perderia a oportunidade de conhecer o centauro.
Sempre
soube que os centauros da mitologia grega eram seres metade homens, metade
cavalos, cuja função era a de proteger as florestas. Acredito que, com o tempo,
foram passando por processos evolutivos, ou – para usar uma palavra tão em moda
– por uma reciclagem, chegando ao que são hoje: seres metade homens, metades
motocicletas e que não protegem nem a si mesmos.
A
travessia da avenida, naquela esquina, constitui uma aventura diária,
principalmente para um idoso. O fluxo de veículos velozes é constante e o
semáforo muda de cor muito depressa, nunca permitindo chegar ao outro lado
antes da troca de verde para vermelho.
Foi
assim que, parado diante da faixa para pedestres, eu olhava atentamente para as
luzes, antes de empreender com segurança a perigosa façanha de cruzar as quatro
pistas. Assim que o verde surgiu e a onda de veículos parou, pisei no asfalto.
Aconteceu que tropecei naquela já minha conhecida fenda na pavimentação e, como
conseqüência imediata, bati como ombro no espelho retrovisor da motocicleta que
estacionara na faixa. O espelho se soltou da base e caiu no asfalto,
estilhaçando-se. O centauro desmontou, retirou o capacete e se postou diante dos
cacos com um olhar ao mesmo tempo assustado e triste, prestes a chorar. Eu,
parado, perplexo, sem saber o que fazer ou o que dizer (“Sinto muito?”
“Desculpe-me?”). Passei em revista todas as expressões catalogadas no código
tácito da convivência urbana. Todas me pareceram vazias e inexpressivas. Optei
pela ação e sugeri ao consternado motoqueiro que estacionasse a máquina e me
acompanhasse a pé a loja desse tipo de acessório, existente nas proximidades,
onde eu compraria um espelho para substituir o quebrado. Ele não queria
aceitar, mas foi vencido pelos meus argumentos de que o verdadeiro culpado pelo
ocorrido era o órgão responsável pela manutenção do asfalto, permitindo aquela
fenda.
Fomos
caminhando e perguntei-lhe se não considerava muito arriscada aquela atividade
de motoqueiro. Surpreendeu-me ao responder e filosofar que o homem nasce
geneticamente programado para correr todas as espécies de riscos. Viver já é,
em si mesmo, um risco. Quando julgamos que estamos seguros em nossas casas,
estamos correndo inúmeros riscos.
Lamentavelmente,
neste nosso sistema político-social verticalizado, em que as decisões são
tomadas de cima para baixo, temos de aceitar decretos, portarias e normas nem
sempre atendendo aos verdadeiros apelos da população. Os motoqueiros precisam
de mais educação no trânsito, é verdade. Porem, eles, em sua maioria, nem sabem
o que é isso.
Chegamos
ao estacionamento. Ele fixou o novo espelho, agradeceu mais uma vez e se
despediu. Em seguida, metamorfoseou-se em centauro, colocando o capacete e
montando no veículo. Deu a partida e se foi, logo desaparecendo na floresta de
carros, de ônibus e de caminhões.
Entrei
em casa refletindo em que a sabedoria, às vezes, se manifesta nas situações e
nas pessoas mais inesperadas.
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